O mogno brasileiro (Swietenia macrophylla) – também conhecido como o "ouro verde" – é, provavelmente, uma das espécies mais preciosas da Amazônia. Nos anos 1990, madeireiras removeram ilegalmente milhões de metros cúbicos de mogno nativo da floresta amazônica para o comércio internacional, uma das principais causas do desmatamento da região. Em resposta, em 2002, a espécie foi incluída na Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (Cites), que estabeleceu uma rigorosa regulamentação do comércio de espécies nativas do Brasil e em processo de extinção. Além disso, a fim de diminuir o impacto causado pela devastação insustentável da Amazônia, uma das medidas tomadas nas últimas décadas foi a introdução, em solo brasileiro, da Khaya ivorensis, espécie também conhecida como mogno africano. Nesse cenário, o Inmetro vem investindo no desenvolvimento e na aplicação de uma metodologia de análise rápida e simples, por meio da técnica de espectrometria de massas, capaz de diferenciar de forma inequívoca as duas espécies.
"Até então, as análises para a diferenciação entre as duas madeiras (de reflorestamento e da nativa), que são visualmente idênticas em campo, eram feitas através de infravermelho. O método, porém, não tinha eficiência para uma identificação incontestável de ambas as espécies. A metodologia que desenvolvemos utilizou a espectrometria de massas de alta resolução e foi bem-sucedida nessa diferenciação. Com isso, pretende-se assegurar que somente haja a exploração legal para fins comerciais do mogno africano em áreas permitidas no Brasil", afirma Maíra Fasciotti, pesquisadora tecnologista do Laboratório de Análise Orgânica (Labor), da Divisão de Metrologia Química e Térmica (Dimci/Dimqt) do Inmetro.
O mogno africano ocorre naturalmente na costa oeste da África e tem sido usado para o reflorestamento da Amazônia brasileira devido à sua madeira de alta qualidade e sua alta resistência a pragas como a “broca”, que ataca a espécie brasileira. As amostras de mogno africano certificado (K. ivorensis) utilizadas na pesquisa foram doadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa – Amazônia Oriental). Já as amostras certificadas mogno brasileiro (S. macrophylla) foram provenientes de partes de móveis antigos e foram doadas por uma serraria, uma vez que atualmente não é permitida a extração de árvores de mogno brasileiras nativas no Brasil.
No país, a fim de proteger o mogno brasileiro, várias iniciativas foram empregadas por entidades fiscalizadoras, nos últimos anos, para reprimir a exploração e a comercialização ilegais. No entanto, faltavam mecanismos práticos para identificar a origem da madeira e seus produtos. Em 2002, o programa de certificação florestal brasileiro (Cerflor) foi criado e desenvolvido pelo Inmetro com essa finalidade. A atual pesquisa desenvolvida na Divisão de Metrologia Química e Térmica do Instituto tem, entre seus objetivos, a intenção de colaborar com processos de certificação da madeira.
“Uma vez que este método baseado na diferenciação quimiotaxonômica entre ambas as espécies seja estabelecido, espera-se que ele possa vir a servir de ferramenta para a certificação do mogno local do Brasil e do mogno utilizado para reflorestamento, inibindo ou contribuindo para impedir a exploração ilegal da S. macrophylla na Amazônia”, afirma a pesquisadora, acrescentando que o trabalho, desenvolvido em parceria com o Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi aceito como capa na “Analytical Methods”, revista da Royal Society of Chemistry que publica trabalhos de métodos analíticos inovadores com enfoque social.
Como desdobramento da pesquisa, a mesma metodologia agora vem sendo aplicada para a investigação de diversas espécies de madeiras brasileiras. O método é rápido, fácil e “verde”: utiliza apenas 2 mL de solvente e 5 minutos em média de análise por amostra.
“Espera-se fazer um banco de dados que englobe a identificação metabólica de espécies de madeiras ameaçadas ou já em extinção, e poder usar efetivamente esta metodologia para auxiliar a investigação do extrativismo ilegal de madeira na Amazônia”, completa Maíra.
Fonte: INMETRO